quinta-feira, 24 de março de 2011

NOSSA PANELA INDICA–O TEMPERO DA VIDA

4743Se eu me atrasar lembre-se de olhar para as estrelas onde quer que você esteja. No céu há coisas que nós podemos ver, mas há também coisas que não podemos ver. Fale sempre sobre as coisas que outros não podem ver. As pessoas gostam de ouvir histórias sobre coisas que elas não podem ver.

Com a comida é a mesma coisa. Que importa não vermos o sal se a comida está saborosa?

 
Assim, o avô Vasilis se despede do neto Fanis, quando uma parte de sua família, de origem grega, é deportada da Turquia. Ótimo motivo para pensarmos no peso das palavras.

Fanis: um professor universitário, astrônomo (céu) reconhecido e também um excelente cozinheiro (comida), que, como eu disse, ainda criança vai morar na Grécia.

Seu avô, Vasilis, era dono de uma lojinha de especiarias e grande conhecedor de suas propriedades. Com ele, Fanis aprendeu muito cedo que à vida e às comidas é preciso adicionar tempero. “A essência está no sal” e a comparação entre os rituais que compõem as histórias e o preparo dos alimentos nos mostra o que seriam os sais da vida.

O Tempero da Vida fala de alguns deles. É um filme sobre a saudade, sobre a nostalgia, sobre o amo Para transitar nesses sentimentos, o roteiro se constrói em torno de: laços rompidos com a partida, efeitos da ausência, lembranças e a relação com a perda. Tudo isso muito bem temperado, entremeado por um cenário cultural e político em que a histórica rivalidade dos gregos e turcos é reavivada por um conflito no Chipre.

 
O filme se divide em três partes, como uma bela refeição: a entrada, o prato principal e a sobremesa. Sem limites precisos, a história vai e vem dos flashbacks pros dias atuais, contando como Fanis se separou de Istambul, do avô e de Saime, uma coleguinha por quem se apaixonara. Nas lembranças, o protagonista vai, pouco a pouco, se envolvendo com a cozinha, inspirado pelos conselhos do avô que vão desde o segredo para se ter a melhor almôndega até importantes constatações etimológicas.

Numa dessas, que abre o filme, descobrimos que a palavra grega para sonho contém a palavra grega para arroto. Sem que o sentido disso fique claro, o filme fala dos rituais que dão sabor à alimentação e às histórias, mas, indo além, me parece apontar para o resultado de duas ebulições diferentes: a dos sonhos que se dá na cabeça e a do arroto, no estômago.
por Thiago Rodrigues


Não deixe de assistir, uma boa dica para este final de semana

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