quarta-feira, 18 de maio de 2011

NOSSA PANELA ENTREVISTA - ISABELA SOUZA CARDOSO - ESTUDANTE DE VINHO

Falar de vinhos para muitos é sempre um tabu. Diante de um mercado tão enorme, fiquei curioso de como funciona o sistema e de como fazer para chegar a excelência, quais os requisitos básicos para se entender um pouco desta arte. Como escolher um bom vinho, como ter uma noite aprazivel sem medo de pagar mico.





Isabela Souza Cardoso
Então conheci a Isabela, apaixonada por vinho e resolveu fazer da sua paixão o seu ganha pão( até rimou, né). Uma pessoa com as respostas na ponta da lingua, sinal que está aprendendo bem esta arte com seus mestres e não titubiou ao ser sabatinada por este que vos escreve.
Para você que gosta de vinho e está cansado de tomar sangue de boi com açucar que nem eu, conheça um pouco mais desta arte através da Isabela souza cardoso.


1 - Como você enxerga o mercado de vinhos no Brasil

-O Brasil é a “bola da vez no mundo dos negócios” e ainda bem…risos…pois eu amo o Brasil. Vejo o mercado brasileiro como um mercado exigente, de grande consumo, que faz com que os produtores de vinho se descabelem para conseguir colocar e firmar suas marcas no mercado isso para produtores nacionais. No que se trata de produtores estrangeiros a coisa complica mais um pouco, devido aos impostos, que por sua vez são elevadíssimos, no entanto estes têm o Brasil como um mercado alvo devido aos possíveis níveis de consumo.
O Brasil é o país do presente e do futuro!

2 - Quem são os grandes produtores de vinho no Brasil?
-Miolo, Salton, Valduga, Aurora, dentre muitas outras que também são muito boas e produzem excelentes vinhos e estão na lista dos melhores espumantes do mundo.

3 - Quem ainda na sua opinião vai se destacar e por quê?
- Numa visão geral, acho que o Vinho do Porto Rosé tem grande futuro no mercado Brasileiro, pois o mesmo gosta do novo e do que é Chic.
Este vinho é quente (alto teor alcoólico) mas bem gelado fica divino, combina com diversos tipos de alimentos.
Eu estive no Brasil faz 1 ano e meio, levei algumas garrafas e não deu para todas as provas, obtive as melhores opiniões sobre o mesmo.

4 - E o nosso potencial na produção?
-Como dizem por aqui em Portugal, 5 estrelas, melhor impossível, só acho que o Brasil precisa abrir mais o mercado, receber ou criar mais cursos nessas áreas, que não sejam centralizados no Sul, São Paulo e São Francisco. O Brasil tem um solo extremamente rico, um terroir mais que propicio. Teremos de apostar no conhecimento para retirarmos o melhor desse terroir.

5 - Qual é a sua proposta de trabalho?
-Estou mais que decidida em volta a morar no Brasil ainda em 2011, quero unir minha experiencia passada de administração de empresas com marketing e claro, viticultura e enologia, o que acho que todos desse meio deveriam fazer, agregar conhecimentos, porem ainda tenho muito que aprender nesse mundo, sei que sou ainda uma iniciante, tenho sorte de ter iniciado com excelentes mestres.

6 - Como funciona uma degustação as cegas?
-Uma degustação às cegas é literalmente às cegas. O vinho é servido por uma pessoa que não faz parte do “painel de provadores”, essa pessoa não desenvolve conversa com os mesmos, as garrafas vêem forradas sem que os rótulos ou lacres estejam à mostra, só são numerados, como vinhos 1, 2, 3, e assim vai. Começando pelos brancos e a seguir os tintos. Os provadores não conversam entre si, cada um na sua mesa, com sua cuspideira, pois o vinho não é ingerido. Também não se deve fazer uma prova de vinhos profissional com estômago completamente vazio, nem com estômago cheio, nem com comida paralela, pode-se ter um biscoito de “água e sal” e água de preferência ao lado.


7 - Qual é a melhor maneira de se degustar um vinho?
- Mais que necessário para quem admira bons vinhos é obter a temperatura ideal, pois a mesma faz com que os aromas se destaquem. Entre outras características, a taça adequada, o ambiente ideal e claro a companhia preferida. No entanto pode até ser sozinho, para refletir ou relaxar.
Existem vinhos para todos os gostos, por isso, existem vinhos para todas as ocasiões, temperaturas, climas, etc.

8 - Um enólogo que admire e por quê?
- Admiro muitos enólogos por esse mundo a fora, mas para mim, o mais especial de todos é o que mais me deu oportunidades, o que mais me ensinou até o momento, o meu professor, Eng.º João Paulo Gouveia, porque, ele não é só um enólogo. Com ele aprendi que o vinho não vem só da adega, vem do bom solo, da boa uva, de um conjunto bem cuidado. E ele tem tudo isso e mais um pouco. Não tem segredinhos, ele passa seus conhecimentos adiante e além de ser professor, mestre, doutor, viticultor, é também produtor de um premiado vinho do Dão (Portugal) que na minha casa não falta, o vinho Pedra Cancela.

9 - Como enxerga os vinhos do Novo Mundo no mercado brasileiro?
-Vejo que possuem estilos de produção muito semelhantes aos do Brasil, até porque o ritmo de colheita funciona quase que no mesmo período. São países com produções em grandes parcelas de terra e elevado potencial de produção, isso gera uma grande concorrência, eu vejo isso pelo lado positivo para nós apreciadores de bons e diversificados vinhos, pois faz com que os produtores estejam sempre na busca da melhor qualidade, a perfeição e com a concorrência acirrada acabem por “tentar” adequar os seus preços.

No geral tem vinho para todos os gostos e estilos, e recomendaria ter em casa ao menos 2 garrafas de cada país, podendo assim efetuar comparações e optar pelo que mais gosta.


10 - Qual a maior dificuldade de aprendizado nesta arte?
-A humildade, saber que não sabe, porque dizer que é enólogo, que é somellier = escanção, técnico em viticultura, em enologia, engenheiro, químico, etc, todos podem falar, mas sacrificar meses longe da família, noites “ganhas”, frio, calor, estudar uma vida inteira, não é nada fácil. O objetivo é estar sempre em busca de conhecimento.
Você me perguntou uma coisa e eu descrevi, várias…

Sauternes
11 - Tem como identificar um bom vinho sem abrir a garrafa?
-Acredito que um vidente consiga. Risos

12 - Qual é o trabalho das empresas para atingir a classe C e D?
-No passado estas classes não tinham qualquer importância no consumo brasileiro, hoje são estas as principais motivadoras do comércio. As empresas têm que otimizar a qualidade dos seus vinhos, adaptar os mesmos às solicitações dos paladares do mercado. No entanto, os bons vinhos têm que deixar de ser um produto “proibido”, pois os preços assim o impõem. Os vinhos deverão integrar culturalmente as mesas dos cidadãos brasileiros.

13 - Verdades e mentiras sobre o vinho?
- Mentira: só vinho caro é bom, só Francês é chic, aquecer o vinho tinto à temperatura ambiente é bom (depende de onde esteja), todo espumante é champanhe, vinho do Porto é feito no Porto, todo vinho dá ressaca e dor de cabeça;

-Verdade: vinho aberto muito tempo vira vinagre, é bom para saúde, um cálice de Porto é bom antes de dormir, taças certas para cada tipo de vinho, a uva do vinho não vende no mercado ela é muito doce.


14 - Para se tornar um enólogo precisa de quanto tempo?
-Na teoria, ao menos 3 anos, na prática uma vida.

Isabela na Pisa da Uva
15 - Como nasceu sua paixão pelo vinho e quando resolveu virar profissão?
- Iniciei meu gosto pelo vinho nas férias com amigos, bebendo um Dom Bosco aqui, um Sangue de Boi ali e cá estou eu, anos-luz à frente casada com um português residindo em Portugal. O curso de Administração estacionado na Bahia, terminei o curso de Especialização Tecnológica em Viticultura e Enologia na Escola Superior Agrária de Viseu. Com 2 Vindimas nas costas, 1 Erasmus em Bordeaux nos vinhos brancos de Sauternes, 1 Vinexpo também em Bordeaux e mais, muitas conferências... seminários... provas...com excelentes Mestres. Exemplos desses Mestres são os do Pedra Cancela e Vines & Wines entre outros...hoje estou tentando levar adiante...Engª Agronómica com especialização em Viticultura e Enologia.

16 - Como se destacar na área?
- Antes de mais nada, tem que gostar do que faz, depois tem que como eu havia dito anteriormente saber que nada sabemos, e correr atrás de tudo e mais algumas coisa, aproveitando todas as oportunidades, pesquisar muito sobre uvas, vinhos, mercados, provar muito, aliás se possível todos os dias, digo provar, não beber. E como eu no momento estou tentando fazer, mesmo sem trabalhar estou sempre atenta ao que se passa a minha volta neste assunto, lendo, conversando, fazendo um círculo de contatos e para quem gosta nunca deixar de estudar e trabalhar.

17 - A uva que se faz vinho é própria para consumo e por quê?
- Não. Apesar de eu gostar de comer uva na época de vindima…rs. A uva que se faz vinho, tem um elevadíssimo grau de açúcar e é esse grau que determina o álcool. A de mesa não, tem um grau de açúcar significativamente inferior e com um tamanho superior. O processo de fabrico de vinho chama-se fermentação alcoólica, que é a transformação do açúcar em álcool.

18 - Existe taça certa para degustação de vinho e como ela deve ser?
- Sim, é a taça de prova de vinhos, que possui a boca mais fechada, para que se sinta de forma integral os aromas primários do vinho. É pequena. Por fim, existe a taça ISO (International Standards Organization), criada em 1970. Ela é uma espécie de taça coringa, pois serve para todos os tipos de vinho.




19 - Indique os 10 melhores vinhos na sua opinião?
Não tenho ordem de preferência.
- Chateau Petrus
- Barca Velha
- Pesquera Gran Reserva
- Pêra-Manca
- Porto Quinta do Noval
- Château d’Yquem
- Tokay
- Dom Pérignon
- Pedra Cancela Malvazia Fina
- Conde de Foucauld Demi-Sec

20 - Qual é o vinho mais caro existente no mercado? E quanto custa?
Château Lafite Rothschild 1787
Valor: $156.450
Dezembro de 1985, Christie’s, Londres
 
 
                                         
 
 
 
Tá bom pra você?..... até a próxima entrevista......

 
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